No começo, havia os nômades, aqueles que não
faziam suas casas em um único ponto; estavam sempre em movimento, sempre se
guiando de acordo com a necessidade, alimentando-se de raízes e frutos. Com o
tempo aprenderam a lapidação de pedras, descobriram como fazer ferramentas, e
foi assim que começou a pesca e a caça.
Os humanos foram tomando conta do mundo. Mas um dia aconteceu:
descobriram que uma semente deixada no solo, com tempo, dava lugar à uma nova
planta.
Foi então que os humanos deixaram de ser
nômades para dar início à sua civilização. Construíram suas casas, fixaram
residência, e mesmo sem abandonar a caça e a pesca, começaram a plantar para
sobreviver.
Se você me perguntar: o que isso tem a
ver com a bruxaria? Eu respondo: A magia sempre esteve presente na vida do ser
humano, mesmo naquela época.
Durante o dia, eles tinham o sol, aquela
estrela magnífica que lhes dava tudo o que precisavam para viver: calor, iluminação, fogo, vida. Durante o dia, eles não tinham medo de nada.
Mas também existia a noite.
O sol começava a se pôr, ninguém sabia
para onde ele ia e nem o porque, só sabiam que ele era engolido por aquela
escuridão que tomava conta de todo o mundo. A lua não trazia a iluminação do
sol, não dava calor e nem iluminava o caminho: a noite deixava tudo escuro e
frio, escondendo as armadilhas e perigos do mundo.
Eles não entendiam, e mesmo assim,
reconheciam que aquilo tudo era algo que estava acima deles. Sabiam reconhecer
que os dois, dia e noite, tinham sua importância no mundo. Aos poucos eles
foram notando que tanto os ciclos do sol como os da lua interferiam diretamente
no mundo e neles mesmos.
As
mulheres estavam tão conectadas com a lua que a maior prova disso era o ciclo
menstrual: quando a lua minguava e se escondia, o sangue descia. Para todas.
Durante todo esse período as mulheres se recolhiam em tendas especiais, onde
cuidavam umas das outras e trocavam experiências, conversavam, meditavam,
etc. E voltavam para o resto da aldeia assim que a lua surgia novamente no céu.
Os homens machucavam-se e poderiam
sangrar até a morte. As mulheres conseguiam sangrar toda virada de lua e não
corriam risco de vida. Era óbvio que tinha algo de mágico nisso tudo!
Pinturas nas paredes e esculturas foram
feitos ao longo da história representando esse culto ao feminino. Temos a
escultura da Vênus de Willendorf (à esquerda), escultura de uma mulher gorda que simbolizava
abundância e fertilidade. Outras estátuas de mulheres abrindo sua vagina também
foram encontradas. A mulher era o amor, a beleza, a espiritualidade, a sensibilidade, a família, a senhora da vida e da morte.
Também fizeram cultos aos homens, pois enquanto a mulher simbolizava a terra fértil a ser semeada, o homem era essa semente. O homem era a força bruta, a proteção da família, o senhor da caça. Existiram deuses como a Deusa Mãe, Gaia; Cernnunnos e Homem Verde.
Avancemos na história...
Com o passar do tempo as civilizações
foram crescendo, mas a magia não foi perdida: sempre houveram pessoas que
conheciam do uso de cada erva e cristal; sabiam o que fazer em caso de febre; tinham rezas na ponta da língua; mulheres que eram chamadas para
ajudar em partos e em funerais...
Até que chegou a Inquisição.
E as mesmas pessoas que tinham ido
procurar ajuda, começaram a acusar.
A inquisição inicialmente foi criada
para combater todo grupo religioso que cultuava as plantas, os animais e usava
de “mancias”. A Inquisição Medieval foi a primeira a surgir, e combateu os
cátaros e albiginenses.
O condenado era acusado de pestes,
doenças, miséria social e catástrofes naturais; era entregue ao Estado para que
fosse punido. As penas variavam desde confisco de bens e exílio, até a morte.
Muitos
métodos eram usados para descobrir se uma mulher era bruxa ou não. E,
convenhamos, os métodos eram feitos para acusar, e não para absolver! Os procedimentos eram pura tortura, dos quais se a pessoa saísse viva
queria dizer que era bruxa e morria na fogueira. Se a pessoa morresse durante
as sessões, oh que coisa, ela era uma pessoa normal, mas pelo menos sua alma
estará à salva! Não tinha salvação!
Foi
nessa época que a bruxaria se fechou em si. Todos aqueles que continuaram praticando
foram se escondendo, fugindo, todos os grupos foram ficando mais secretos e
tensos. Muitos escritos se perderam nessa época.
Só
no século XVIII é que a Inquisição começou a ser extinta, embora só em 1821 que
deram formalmente sua extinção.
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